EXERCÍCIO-ESPETÁCULO DOS ALUNOS DE MESTRADO EM ARTES CÉNICAS DA ESMAE

Debaixo dos escombros há recantos para onde se desejou regressar, cortinas resignadas, mantas e peluches entre os estilhaços de betão, ruínas do telhado que um dia deu guarida ao papão, soalhos fendidos onde caminharam pés descalços, fragmentos de uma parede diante da qual alguém sonhou.

Quem vai olhar pelas flores?

Há murmúrios silenciados de uma canção de embalar, corpos ainda mornos ávidos de serem suspensos, braços que comporiam os abraços deixados para outro dia, peitos sufocados por umbrais de portas e janelas que davam para uma rua cheia, cheia de cheiros, pés vivos, mãos leves, cabeças ocupadas com frivolidades e peitos agitados por gargalhadas.

No meio dos escombros, deambulam corpos sem casa, desalojados, por entre braços suplicantes no desespero de desenterrar os mundos adiados.

Por cima dos escombros, o bicho-papão tem rostos como os nossos.

Temos de ser positivos. Temos de ser positivos? Dias assim são notícias de lugares distantes. Dias assim são notícias de lugares distantes? Entretanto, quanto tempo falta para o fim do mês?