Prometheus
PROMETHEUS
12 a 15 de setembro 2024
Quinta e Sábado – 21h30
Domingo – 17h00
M/16 | BILHETES : 3,00 a 10,00 euros
“Nada precisa de ter mesmo acontecido para ser real. Contos e sonhos são as sombras de verdade que hão-de persistir quando meros factos não forem mais que pó e cinzas, esquecidos.”
Neil Gaiman
Qualquer mito não é mais do que um espelho. Um reflexo de uma imaginada humanidade já morta a informar (conformar? condicionar?) uma humanidade ainda e sempre em aprendizagem. Olhamos as histórias que deram forma a quem fomos para continuar a construir chão comum, entendimento. Mas esse processo, o de reler e recontar história antiga que nunca aconteceu, é, também, uma guerra sem quartel, pois o poder sobre essas histórias, sobre o que simbolizam, o que dizem e não dizem, sobre o que escondem e negam e permitem que se entenda ou se esqueça, é poder político. Revolucionário. Identitário. Apocalíptico.
Partindo da lenda do ladrão do fogo, que roubou aos deuses a chama divina para depois a oferecer à humanidade, Ésquilo escreveu “Prometeu Agrilhoado”. À rocha impiedosa do Cáucaso aferrolhou o titã impenitente e dele fez senhor de uma profecia que se recusa a revelar sobre um “filho mais forte do que o pai” que Zeus, o rei dos deuses, há-de conceber para depois ser, por esse mesmo filho, implacavelmente destronado. Prometeu é, nesse texto com dois milénios e meio, um revoltoso, um celerado, um patrono da massa humana, um inconsciente, um inflexível inimigo da cruel ordem divina, um desgraçado, um herói. Muito do que hoje sabemos sobre esse mito e, consequentemente, muita da interpretação que sobre ele produzimos, ao texto de Ésquilo o devemos.
Mas e se essa não fosse a história toda…?
E se a procissão de deusas e deuses que, naquela peça, passa pelo corpo agrilhoado de Prometeu para o aconselhar, persuadir, admoestar, encorajar ou ameaçar não fosse um desfile de espectadores mais ou menos distantes, mas sim de activos decisores sobre a história que no palco se conta? E se lhes tivesse sido confiado o celestial dever de recontar essa história? Democraticamente?
O Cáucaso de Ésquilo é prisão. Aqui, neste nosso reinterpretado mito, também. Presas ao dever de eleitoras, as divindades que revimos à luz da contemporaneidade falam-nos, simultaneamente, de muito longe, senhoras que são do seu património clássico, mas também de bastante perto, conscientes do lugar histórico que hoje ocupam. E, agrilhoadas elas mesmas às suas agendas e segredos, aos seus ódios e impotências, debatem e guerreiam e decidem. Tal como nós.
Pedro Galiza
Equipa Criativa e Artística
Dramaturgia, Encenação e Cenografia
Pedro Galiza
Música e Desenho de Som
Ricardo Pinto
Sofia Faria Fernandes
Desenho de Luz
Tiago Silva
Figurinos
Cátia Barros
Interpretação
Sofia Faria Fernandes
Daniel Silva
Bárbara Pais
Luísa Guerra
Pedro Barros
Catarina Carvalho Gomes
Tiago Araújo
Produção
Ensemble – Sociedade de Atores
Casa das Artes de Famalicão