Semen est Verbum Dei é o trabalho que reabre as portas do Teatro Helena Sá e Costa em setembro. A produção, que é anualmente realizada pela turma do 3º ano da Licenciatura em Teatro da Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo, deveria ter acontecido no palco do Teatro Campo Alegre numa parceria com o Teatro Municipal do Porto e era para ser a Repetição do Fim do Mundo/Ópera Real, mas foi inevitavelmente adiada devido à pandemia. O espectáculo que agora se apresenta, também encenado por António Durães, parte do Sermão da Sexagésima, de Padre António Vieira, teve de ser adaptado para a realidade atual e propõe um exercício da multiplicação dos corpos e das vozes. É o palco da palavra que vão habitar actores e espectadores. No sermão da sexagésima, pregado na capela SINOPSE real em 1655, António Vieira, padre por devoção e imperador da língua portuguesa (nas palavras de Fernando Pessoa) por convicção, perora sobre a sua condição de pregador, semeador da palavra de Deus, e reflecte sobre o acto e a eficácia da pregação. Nós, através dele e através do seu sermão, reflectimos sobre a nossa condição de agentes teatrais, reverberamos as suas palavras e pensamos no gesto teatral em abstracto. Seremos aqueles a quem Vieira apõe o epíteto de operários da farsa ou, por oposição, somos os honestos trabalhadores da comédia?