DESPE-TE [ISABEL]

DESPE-TE [ISABEL] DE ELLA HICKSON

ENSEMBLE – SOCIEDADE DE ACTORES

– 10 a 12 de março- 

Quinta-feira , 10 de março – 21h00
Sexta-feira , 11 de março – 21h00
Sábado, 12 de março – 21h00

M/14 |  BILHETES : 3€  a 10€

“A minha mãe seduziu um homem com tanto sucesso que ele alterou a história constitucional deste país. Conseguiu evitar ir para a cama com o meu pai durante quatro anos. Quando, finalmente, baixou as cuecas, perdeu tudo. A cabeça incluída.”
Isabel I foi a única mulher solteira que alguma vez governou a Inglaterra. E reinou durante quarenta e quatro anos. O poder é um jogo e ela percebeu isso melhor do que ninguém. Estreada no Teatro Sam Whanamaker no Shakespeare’s Globe, em Londres, em 2019, esta peça reflecte sobre os modos e meios que as mulheres no poder são obrigadas a usar para resistirem à pressão masculina e conseguirem sobreviver num mundo que é fundamentalmente hostil com elas e os seus corpos.
Mais do que pretender ser uma peça histórica, Despe-te [Isabel] lança um olhar eloquente e intelectualmente ágil a temas contemporâneos sob um prisma histórico.

 

“Todo o mundo é um palco,
E todo o homem e mulher, não mais que actores”
William Shakespeare

Vir ao mundo divina, filha de reis, herdeira de tronos; sobreviver, à luz de velas que mal espantam a escuridão, à execução da mãe; assistir ao desmoronar da linha de sucessão à sua frente, abrindo-se-lhe o caminho até à coroa como que por intervenção dos céus; ser coroada depois de duas vezes encarcerada, à morte tendo escapado pela força do génio; ver o mundo todo conquistado e ela, sozinha, lá no alto, vitoriosa, e, ainda assim, que lhe seja repetido, uma e outra vez, por palavras e gestos: não passas de uma mulher.

Não havia de ter homem, de ter dono, nem havia de gerar filhos. Não seria o que é suposto uma mulher ser, nem muito menos faria o que é aconselhável uma mulher fazer. Sobraria apenas a rainha que os séculos baptizaram como virgem, pois à história é-lhe difícil distinguir a pessoa do género. Virgem. A que não teve sexo. Sim, não o teve, mas não falamos do acto. Isabel foi simplesmente Isabel.

O poder é um jogo de espelhos e o seu exercício, que tão simplesmente nos aproximemos ou distanciemos do nosso reflexo. E, quanto mais longe, mais difuso ele se torna. Consequentemente, mais poderoso, porque menos claro, menos susceptível de se deixar prender e fixar. Aqui, neste espectáculo, a alegoria transubstancia-se na cena. No espelho gigante, que vemos bailar por si pelo palco fora, Isabel não se deixa definir pela imagem que supomos ver reflectida. Joga o jogo, apenas. Afasta-se e aproxima-se. E não há aqui homens para ver projectados, tão somente personagens masculinas que actrizes interpretam. Despindo-as dos corpos varonis, sobra apenas a ideia do homem, a ideia do conquistador sexual e político que insiste em querer ver de Isabel um reflexo que o assegure na sua própria condição. Um reflexo que não o assuste. Reduzido a personagem, o homem, assim entendido, revela-se apenas uma imagem possível, entre muitas. Uma interpretação, entre muitas, do que é ser-se homem. E, quando confiada a mulheres, essa mesma interpretação revela-se em toda a sua fragilidade.

Que se dispa Isabel, é o que o título lhe pede. E ela assim o faz. Mas estará quem o pede, o espectador anónimo que imaginamos que o peça, preparado para contemplar a nudez da rainha?

(Pedro Galiza)

Ficha Técnica

Tradução e encenação
Pedro Galiza

Interpretação
Emília Silvestre
Ana Pinheiro
Filomena Gigante
Margarida Carvalho

Música*, desenho e operação de som
Ricardo Pinto

Desenho de luz
Rui Monteiro

*(a partir da Chaconne em Ré Menor, P. 41 de Johann Pachelbel)

Figurinos
Bernardo Monteiro

Espaço cénico
Pedro Galiza

Vídeo
João Pedro Fonseca

Assistente de encenação
Inês Simões Pereira

Assistência ao desenho de luz e operação
Tiago Silva

Assistência cénica e de produção
Sara Pacheco e Beatriz Pinho

O ENSEMBLE – SOCIEDADE DE ACTORES É UMA ESTRUTURA FINANCIADA PELO MC/DGARTES